21.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 5/5)

A ameaça no coração da vila fora destruída. Ao caminhar para a últma casa de seus pais, nenhum dos aldeões tinha coragem de levatar seus olhos a Petrik. Ele pegou os percentes da família e acomodou sua irmã na carroça, junto a eles. Partiu sem olhar para trás, para nunca mais voltar. Seguem os últimos trechos de seu diário:

"Vigésimo-primeiro dia,
Estamos a dois dias de viagem da vila. Os pesadelos ainda me perseguem, nuca mais serei o mesmo. Minha irmã também não. Com tristeza escrevo essas linhas e não voltaria a escrever aqui. Também não voltarei aos meus estudos de Magia, tenho uma promessa a cumprir. Pensei que destruindo aquele monstro ou fugindo da vila minha irmã melhoraria. Isso não aconteceu. Notei as mudanças que nela se faziam. Ela parecia já estar morta e a morte andava a seu lado. Mas ela voltou a acordar, apenas para dizer suas últimas palavras.
Ela disse que não queria se tornar um monstro, que queria morrer em paz. Eu deveria livrá-la daquela maldição. Deveria perfurar seu coração para deixar o mal contagiante que o dominava partir e então deveria purificá-la. Mas, além disso, ela me fez prometer que eu não descansaria enquanto não livrasse o mundo do mal que agora a possuía ou qualquer outra espécie semelhante. Sem hesitar jurei por nossa família em todos tempos. Então a irmã que eu conheci expirou.
O ar a nossa volta começou a mudar. O espírito maligno em minha irmã que a corrompeu e corrompia tudo a nossa volta. Com lagrimas nos olhos peguei aquele mesmo cabo de vassoura que havia se partido na fracassada tentativa de salvar minha irmã. Ele agora cumpriria sua missão como uma estaca que livraria do mal o coração da pobre coitada.
Escrevo essas passagens em frente ao túmulo de minha irmã, na bela relva perto da estrada, onde realizei os rituais que purificariam seu corpo e sua alma. Ela por fim pode descansar, como nossos descansam. Mas eu não descansarei em virtude de meu juramento, até a hora de minha morte, e o mesmo se dará aos meus descendentes.”

Os demais documentos falam das descobertas de Petrik e dos trabalhos e perigos enfrentados pelos primeiros caçadores. Falam de como foi criada a Tradição dos Caçadores Jurados, entre outros relatos.
Meu amigo é um caçador. Ele descende de Petrik e diz que a promessa ainda não foi cumprida, que na verdade sua família sempre esteve em desvantagem, havendo períodos sem caçadas em andamento. Mas pelo menos sabem que existem aqueles dispostos a lutar, mesmo que sejam batalhas perdidas.


19.9.04

A passagem dos dias...

Como em todos os lugares, aqui o tempo também se move. Mas não posso afirmar que seja do mesmo jeito do que era onde nasci. Já falei uma vez, nem tudo o que fui obrigado a estudar para chegar a Universidade é verdadeiro desse lado, mas isso também não significa que seja inútil. De qualquer modo, mesmo não sendo tão determinado o padrão, sei que ele existe.
O que quero dizer é que o tempo não segue de modo linear. Ele se desenvolve, hora após hora, dia após dia, mas não é necessariamente sempre assim. O tempo não é uma linha, não sei definir o que ele é. Talvez um plano, ou uma teia, mas sei que ele não é reto, está ondulado, faz curvas e, o mais interessante, toca-se em vários pontos e também compartilha momentos com a linha temporal do outro lado.
Apesar disso, é possível contar o tempo, horas, dias, semanas... Porque ele tem uma seqüência e ele flui sem parar. Em que anos nós estamos? Eu não tenho certeza. Eu estou aqui há quase 60 anos. Acho que estamos perto de 1980 do mundo "real". Aqui eles dizem estar em 1931. Mas quando eles começaram a contar? Bem, existem vários padrões de contagem em outras regiões, mas aqui no Teilzu o motivo foi a passagem do último grande princípe dourado. Um campeão da Justiça e da Luz que continuou sua jornada no além. Ele era adorado e em sua homenagem os calendários foram zerados até o momento de seu retorno.
Essa é outra parte da história. A lenda que conta como os povos irmãos cairão e sua única esperança reside em um herói vindo do outro lado, herdeiro daquele que foi o maior dos campeões. Se a lenda é verdadeira, não tenho certeza, mas que os povos irmãos estão prestes a cair, isso está mais claro do que nunca, pelo menos para mim.

15.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 4/5)

Nesse ponto Petrik evita descrições profundas. Apenas podemos imaginar o horror que sentiu o jovem ao encontrar os corpos sem vida de seus pais largados no chão da casa. Apenas um gemido no andar de cima fez o torpor passar. Ele explica que pegou a primeira coisa parecida com uma arma e correu para o quarto de sua irmã, ele imaginava o que acontecia, mas não sabia pelo que esperar.
“Subi as escadas o mais rápido que pude. Quando cheguei notei aquele tom verde sobre minha irmã, uma espécie de boca encostava-se a seus lábios, enquanto ela permanecia deitada, inerte. Instintivamente joguei aquilo que tinha em minhas mãos, como uma lança, em direção ao ser que havia matado meus pais. A velha vassoura atravessou a fumaça e se partiu na parede. Foi o bastante para chamar a atenção do fantasma e desconcertá-lo... a única coisa que veio a minha mente foi um encantamento de luz, isso o fez fugir, mas não o destruiu...”
Aparentemente a irmã não morreu nessa hora, mas também não voltou a acordar enquanto eles estavam na vila. O caçador fez o que pode para dar paz às almas de seus pais e preparou-se para partir. Mas ele sabia que algo estava diferente em sua irmã e que não haveria esperanças para ela se não se livrasse do espírito maligno que a tocou. Assim, ele se preparou para a vingança.
Buscou em seus livros uma explicação para o que seria aquilo. Um espírito amaldiçoado que não aceita morrer, alimenta seu corpo putrefato sugando a vida dos seres a sua volta, desenvolvendo uma ligação com os mesmos, destruindo suas mentes e auto-determinação. Não havia explicações de como destruir tais seres, mas sua esperança repousava na idéia de que seu corpo decaído era seu local de descanso, sem ele não teria para onde retornar todas as manhãs.
Quando o sol nasceu, ele sabia o que fazer. Tudo indicava que o algoz da cidade encontrava-se no cemitério. Para lá ele seguiu, munido de seu livro de magia e de uma pá. A população olhava aterrorizada para o pobre infeliz, mas não tinha coragem de impedi-lo ou ajudá-lo. Ao passar pelos portões da capela que levavam ao cemitério, Petrik sentiu como se o ar fosse um muro de tão asqueroso e pesado. Segurando o fôlego ele avançou. Ele ainda não conhecia o cemitério por dentro, mas viu que todos os túmulos estavam profanados, ninguém tinha coragem de deixar seus mortos lá.
Apenas um mausoléu negro mantinha-se imponente e intacto. Agora seria Petrik quem eliminaria a maior profanação. Arrombando as portas do mausoléu, com muita dificuldade. Antes de adentrar, invocou uma magia de proteção. O túmulo estava lá. Com a mesma pá ele quebrou a laje. Não sabia dizer de onde vinham suas forças, mas não desanimou ao encontrar terra para ser cavada.
“Quem se daria o trabalho de enterrar de maneira tão sacra tal monstro?” era o que sua mente pensava naqueles momentos terríveis. Quando chegou ao fundo, restos mortais amaldiçoados exalavam seu cheiro de morte. Ele não agüentava olhar aquele monstro. Saiu do túmulo e fez o que pretendia fazer. Esconjurou com fogo místico os restos mortais daquele ser, garantindo que nunca mais ele tiraria a vida de outra pessoa.

14.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 3/5)

Apenas algumas páginas ainda restam daquele triste diário. Elas relatam os últimos dias que o jovem aprendiz de mago passou naquela sombria cidade. A passagem mais interessante trata da promessa feita a sua irmã. Mas chegaremos nela em breve, antes é preciso abordar o que aconteceu nos dias que se seguiram. Aparentemente Petrik já desconfiava, antes mesmo de chegar na cidade, que algo terrível estava por acontecer. Suas suspeitas fortaleceram-se com o passar dos dias, mas suas forças seguiram o caminho inverso.

“Sinto no ar uma presença que o torna denso, dificultando não apenas a respiração, mas a própria concentração... minha mente está cada vez mais perturbada, os pesadelos que me atacam são terríveis, mas o pior é ter medo de passar a noite acordado...”
Essas idéias o levaram a acreditar que algo rondava a noite na cidade. Ele entendeu que algum ser maligno levantava-se a noite para se alimentar da força vital dos moradores da cidade, ele seria o verdadeiro senhor da cidade. Assim, Petrik decidiu por fazer uma vigília noturna.
“O que vi foi terrível, mal consigo descrever, não sei como sobrevivi àquela imagem. Primeiro vi apenas algo que parecia ser uma neblina, mas as cores que dela emanavam eram estranhas, um tom de verde, misturado com negro e vermelho sangue... enquanto o terror me dominava, tentei entender o que era aquilo e notei que uma forma podia ser identificada... havia uma forma humana entre a neblina, ou seria um espírito humano em forma de fumaça... só quando era tarde demais percebi que aquilo se movimentava, seguia em direção a casa de meus pais... como pude esquecer a porta aberta??? Mas seria aquela porta um real empecilho?”
O espírito seguiu para a casa onde Petrik estava habitando e lá dentro encontrou os pais do futuro caçador. Eles estavam acordados, temendo pelo filho na rua. Quando o monstro entrou, foram tomados pelo desespero e loucura. Isso foi por pouco tempo, pois aqueles dois corpos frágeis nada significavam para o imortal, assim ele se livrou rapidamente dos mesmos. Seu desejo era pela jovem vida que pulsava no andar de cima...



11.9.04

Os senhores das montanhas

As montanhas a oeste não estão abandonadas. Existe um povo nobre e orgulhoso, livre e feliz, que lá habita. Eles controlam vastas áreas sobre as montanhas, eles chamam as montanhas de lar. Eles não são os únicos que moram lá, mas eles são os senhores e por seus dons, causam inveja em muitos de nós.
Em tempos longínquos, houve um povo que vivia nas planícies, mas vivia com medo lá, sob domínio de monstros. Eles queriam ser livres, então resolveram fugir. Achavam que se pudessem alcançar os céus, como os pássaros, seriam livres. Assim, seguiram eles para oeste, escalando as cordilheiras em direção a mais alta das montanhas. A jornada não foi fácil, alguns ficaram pelo caminho, poucos tiveram coragem de ir tão longe, estavam presos aos seus próprios medos. Apenas um conseguiu chegar ao seu objetivo e este foi o primeiro de um novo povo.
Takyam, o alado, encontrou a Liberdade. Encarnada nos Reis dos Pássaros, o maior dos Condores. Ele pediu pela sua benção, pediu para que seu povo fosse livre e um pacto foi feito, além das nuvens. A Grande Ave Negra falou a Takyam que seu povo seria livre e compartilhariam do dom dos seres alados. Mas eles ainda não estavam prontos e deveriam conquistar o merecimento, como o jovem havia feito. Nem todos podem ser livres, explicou o Condor, se estão presos dentro de suas mentes. Não é possível ensinar como ser livre, apenas é preciso ser.
“Volte agora, meu jovem pássaro. Conte a seu povo e deixa que eles aprendam sozinhos”, foram as palavras da Liberdade que só voltaria a ser ouvida pelos poucos que se livrassem das correntes. A partir daquele momento Takyam não era mais apenas um homem, seu corpo estava transformado e duas asas negras e fortes surgiram de suas costas. Ele voou até aqueles de seu povo que estavam dispostos a abraçar o mesmo grande destino.
Surgiu, assim, aquele povo por nós conhecidos como homens-águia. Eles se autodenominam Takam. Nem todos receberam a mesma benção que Takyam. Seus corpos foram transformado com o passar dos séculos por viverem nas alturas, mas os nascidos com asas são poucos e não foram como seu antepassado. Os que nascem com asas, as têm como braços transformados, seus corpos leves e delgados permitem o vôo, mas seus espíritos são tão livres que pouco se ligam ao seu povo, fazem parte dele apenas por facilidade.
Os que nascem sem asas, também têm corpos leves, mas não podem voar. Possuem outros dons e responsabilidades, seus os provedores e protetores do povo, porque parte do seu espírito ainda está presa a terra. Mas também eles podem se libertar e tornarem-se como Takyam foi. Aqueles que atingem tal estado, com uma nova visão de mundo, um novo entender da realidade, tornam-se aptos a dar continuidade às tradições de sua raça e são os verdadeiros líderes e herdeiro do primeiro entre eles, o Alado.

7.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 2/5)

“Sexto dia,
Tive sonhos perturbadores. Minha mente parece estar anuviada. Não consegui escrever ontem. Foi pouco o tempo. O reencontro com meus pais foi frio, eles parecem fracos e pálidos, sem energia. Minha irmã está acamada, não há médico na vila e eu não sei identificar o problema... a vida parece se esvair do corpo dela.
Hoje a tarde vou investigar este lugar... Não consegui convencer meus pais a partirem imediatamente, algo parece prendê-los aqui. Preciso entender tudo melhor”
...
“Décimo dia,
Desde que cheguei aqui não consigo dormir direito. Meus estudos estão sendo prejudicados. Acredito que forças malignas habitem este vilarejo. Tenho me concentrado em magias de proteção contra o mal e rezado aos deuses por ajuda... não sei o que me aguarda...”
...
“Décimo primeiro dia,
Agora entendo porque todas as manhãs os homens saem com tanta disposição para trabalhar. As lavoras ficam distante do centro, lá há vida e ar puro. Eles conseguem renovar suas forças e é mais fácil conversar com eles.
Mas as lavouras só estão longe porque as terras antes do rio são insalubres... não sei o motivo disso, mas agora percebo que não existe vida vegetal na vila, a não ser por algumas ervas daninhas que são raras quanto mais perto do centro. Também são poucos os animais que se aventuram por aqui... apenas humanos.”
...
“Décimo quarto dia,
O centro da vila é um cemitério. Fica atrás de uma capela. Existem uma ou duas casas maiores, todas antigas de pedra, creio que a maior e mais perto da capela seja a casa do senhor, mas ainda não o conheci. As demais casas são de madeira, espalhadas pela vila. Não há comércio, existe uma barraca onde as pessoas levam seus produtos para compartilharem com os demais moradores. A vida é muito simples. Mas ao mesmo tempo, assustadora. Poucos são os que entram na casa do senhor, menos ainda os que vão a capela. Não há um clérigo em serviço. Nunca vi os donos da vila, apenas os servos. Alguns que moram aqui há mais tempo parecem comandar os serviços, mas suas atitudes são tão estranhas, como se não tivessem mente própria...
...
“Décimo sétimo dia,
Não havia reparado antes, isso é estranho. Não existe vida a noite. Ninguém ousa sair de casa a noite. Demorei em notar isso porque eu mesmo não tinha vontade de sair a noite, todos dormem cedo. Mas quando comentei com meus pais sobre barulhos na rua, eles desconversaram. Passei uma noite observando, questionei as pessoas, ninguém gostou do assunto. Estou certo de que algo lá fora caminha pela noite e ninguém tem coragem de abrir sua porta depois que o sol se põe. Preciso descobrir o que é, talvez assim consiga convencer meus pais a partirem. Minha irmã está piorando, não entendo porque ela está assim..."

As passagens começam a ficar dispersas. Parece que Petrik não tem mais força ou vontade de descrever tudo o que vê. São poucas as folhas restantes no diário, ele explica porque parou de escrever. Talvez precise buscar lembranças que o caçador conta daqueles dias sombrios em outros textos a fim de esclarecer qual foi o horror que ele precisou enfrentar e jurou continuar enfrentando...

6.9.04

Duelos nos céus

Por que sempre achamos que os deuses moram no céu? Talvez seja porque é melhor pensar que eles ficam apenas lá em cima nos vigiando e cuidando de nós e por que seria bem difícil conviver lado a lado com esses seres. Ou talvez seja por que os consideramos uns arrogantes que não querem se misturar com suas criações. Não é bem assim. Na verdade eles já moraram entre nós, ou nós entre eles. Mas há alguns séculos eles se afastaram, muitos sumiram sem deixar vestígios. Tudo mudou por causa da guerra que pôs fim a uma era. Eles não sumiram de repente, admito. Essa situação já vinha se anunciando antes do fim. Com o aumento da população de mortais, os deuses passaram a se distanciar de seus protegidos, isolando-se em outros planos de existência. Mas eles ainda caminhavam ao nosso lado. Hoje não temos notícias deles.
Mas não quero dizer que isso seja ruim. Realmente é difícil saber o que é pior. O imenso poder que possuíam quase não era contido em seus corpos materiais. Toda a frágil existência era ameaçada quando eles estavam por perto. No inicio os perigos para nós eram imensos e eles sabiam disso, mas não se importavam. Quando perceberam que isso prejudicava seus objetivos, decidiram se afastar e nos controlar a distância.
Fomos usados em suas batalhas, como os peões de um tabuleiro de xadrez. Mas aos poucos também aprendemos a usá-los em nossas batalhas, transformando nas deles. Sim, quando eles passaram a atuar a distância houve grande progresso. O problema é que as disputas começaram a ficar incontroláveis e mais uma vez eles desceram entre nós e precisaram se envolver.
Dias memoráveis aqueles. Descobrimos que os deuses também podem morrer. E os vestígios das batalhas perduraram nos céus por muitos anos e a terra continua marcada. E os deuses se afastaram de nós, lamentavam suas perdas. Alguns começam a pensar que eles nunca existiram, mas em muitos a memória dos duelos nos céus continua presente. Em breve não serão mais apenas lembranças, viveremos tudo novamente...

2.9.04

As terras conhecidas (Parte 2/2)

A parte de Teilzu a leste do grande mar central é uma região difícil de se viver. Nela encontra-se um grande deserto, nunca viajei além dele, mas houve histórias de uma grande civilização do outro lado. O deserto quente permite apenas populações escassas e a área de clima agradável possui grandes florestas e montanhas, além de pradarias. Mas porque não se constrói cidades nessas terras? Pois essas terras são ocupadas por grandes animais, ferozes e selvagens. Existem boatos de cidadelas perdidas dentro da grande floresta central, mas nunca pude comprovar. Os povos das terras orientais preferem viver perto do mar, por isso tornaram-se grandes marinheiros.
Mas apesar daquela ser uma terra bonita, não existe beleza que se compare com a região do Teilzu oeste. Seu litoral de mar azul com corais protegendo a praia, os mais variados tipos de clima, florestas adequadas aos climas, montanhas com neve, morros e colinas dando um toque pitoresco ao relevo, além de planaltos com uma mística particular. Tudo entrecortado por rios e planícies. Um local perfeito para se viver em harmonia com a natureza e por um longo tempo foi assim que as primeiras raças viveram, de fato os Basti ainda vivem assim. Claro que também existem cidades e elas são bonitas, apesar de algumas serem desagradáveis.
As mais altas montanhas ficam no oeste, elas seguem o litoral em direção ao norte, criando a barreira que separa nos separa do continente gelado ao norte. Existem minas e cidades nas montanhas e em suas cavernas, povos estranhos habitam por lá. As terras ao sul são mais frias, com florestas temperadas, neve no inverno, etc. Ela que se liga ao Teilzu leste. É habitada principalmente por humanos. Nas regiões mais gélidas do sul poucas tribos moram, mas todas vivem em paz. A parte central que sobe para o norte.
A região litorânea do mar central possui várias cidades e vilas de pescadores. Algumas cidades são grandes e realizam comércio marítimo. Os portos hoje em dia estão um pouco vazios, as grandes navegações são evitadas. As povoações que seguem para o centro acompanham os rios. Existem várias cidades importantes terra adentro, a maioria é ribeirinha. Enquanto o oceano a oeste é vizinho a uma grande cadeia de montanhas, no leste em parte existem alguns morros, mas as terras não são muito elevadas. Mais ao nordeste, existe uma região com características de deserto, ela não é habitada por humanos, mas possui seu próprio povo adaptado ao clima.
Os humanos preferem viver nas cidades, perto de rios ou do mar. São organizados, mas estão dispersos e as estradas ficaram perigosas. Existem povos que gostam de viver nas montanhas a oeste, muitas raças preferem se isolar dos humanos. Os Basti vivem nas florestas antes das montanhas, essas florestas são vastas e protegem seu estilo de vida. Eles mantêm raros contatos com os humanos, mas apenas para garantir que não serão incomodados. E são poucos os com coragem de invadir tais florestas, pois as histórias que contam sobre elas não são tão agradáveis.

Mais perto do que poderíamos acreditar...

Ninguém quer se levantar. Estão todos bem acomodados. Como pode ser isso??? Dormindo em camas de palha? Sentando em bancos velhos na taverna?? Ouvindo as mesmas velhas piadas e histórias, bebendo a mesma cerveja aguada para esquecer das dores do dia? Será que ninguém escuta os avisos soturnos dos corvos? Eles falam ao vazio.
Todos se sentem seguros. Faz séculos que não existe uma batalha memorável, desde que... eles não gostam de serem lembrados disso. Mas as rixas aumentaram. Nem sequer o reino que dizem existir tem um rei de verdade, são vários os reis morando em várias barrigas. As cidades só falam entre si na linguagem do ouro. Uma quer lucrar sobre a outra. Talvez não haja um mal verdadeiro nisso, mas assim nasce a desconfiança.
Por isso ninguém escuta as histórias sobre guerras, bárbaros, monstros e invasores que se aproximam. Muito menos dão valor às notícias de conflitos entre vilas e cidades que já foram amigas. "Tudo não passa de boatos dos estrangeiros para estragar nossos negócios". Grandes negócios, manter a barriga cheia. Mas grande parte da população só consegue enchê-las com vento.
Os líderes estão acomodados, o povo também. Existem ainda alguns com sabedoria, que percebem os sinais, mas preferem ignorá-los. Eu viajei bastante e vi que não são apenas sinais. Não podemos esperar sentados. Sou taxado de louco, mas loucura maior é morrer sem lutar. Não irei permitir isso.
Talvez fosse isso que as lendas quisessem dizer. Mas eu estou velho para lutar, mas não velho o bastante para preparar a batalha. Sei que chegará o dia em que o envolvimento de todos será inevitável, mas até lá buscarei por aqueles que não querem continuar cegos. Existem pessoas que cansaram da apatia que assola o mundo, o conforto talvez também seja um mal. Com essas pessoas nos levantaremos contra o mal que bate à nossa porta.

1.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 1/5)

Essa história chegou a mim por um amigo. Eu perguntei porque ele fazia o que fazia. Não que sua missão fosse maligna, pelo contrário, acredito em sua causa, mas queria entender suas tradições. Ele me mostrou alguns documentos, diários, páginas soltas. Tais textos contam a origem de uma organização praticamente familiar, que surgiu na Era do Despertar e muitos pensam estar extinta. Tentarei transcrever o que li, os trechos mais importantes, pelo menos. Minha intenção, reforçar o que costumo falar: há esperança.
"Pai e mãe,
Meus estudos estão avançando, mas sinto falta do lar. Meu mestre algumas vezes exige demais de mim, mas acho que realmente posso ter um dom para Magia. Talvez algum dia possa voltar para casa e ajudar vocês com o que aprendi...
...
Petrik" - Vestígios de uma carta...
"Amados pais,
Recebi a notícia de que nosso senhor faleceu e que vocês partiram para outra vila na esperança de encontrar trabalho. Meus irmãos estão indo para ajudar... certos trechos de vossa carta não está claro... Vou tentar visitá-lo o mais breve possível, conseguirei permissão de meu Mentor...
Seu filho Petrik" - Mais vestígios, de outra carta...
"Primeiro Dia
Consegui permissão para viajar, mas talvez o retorno seja impossível. Continuarei meus estudos por conta própria, manterei esse diário para controlar minha evolução. Pensamentos e emoções me corroem. Não sei o que espera por mim. Os boatos que ouvi da vila para onde se mudou minha família, não me agradam. Demorei demais para partir. Devia ter pedido a meu Mestre que aceitasse minha família como seus criados. Os sinais agourentos das estrelas não sugerem que a viagem será fácil"
...
"Quarto dia
A medida que me aproximo, as histórias que ouço pioram. Boatos sobre mortes terríveis, lendas sobre monstros. As noites são mais escuras e os dias frios e nublados parecem condizer com meu estado de espírito. Poucas são as famílias que ainda vivem naquela vila, aparentemente são loucas, mas tem dinheiro para sustentar a loucura e precisam de serventes. Meus irmãos não deveriam ter permitido que meus pais partissem. Temo pela saúde deles. Será que são verdadeiras essas histórias horríveis?? Espíritos malignos tomando os corpos das pessoas, alimentando-se de sua energia vital... Creio que adeptos de magia negra conseguiriam isso, mas essa região tão simples não parece ser habitada por esse tipo de magos... Pelo menos meus estudos noturnos mantém minha mente preparada... Amanhã descobrirei o que realmente está acontecendo."