7.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 2/5)

“Sexto dia,
Tive sonhos perturbadores. Minha mente parece estar anuviada. Não consegui escrever ontem. Foi pouco o tempo. O reencontro com meus pais foi frio, eles parecem fracos e pálidos, sem energia. Minha irmã está acamada, não há médico na vila e eu não sei identificar o problema... a vida parece se esvair do corpo dela.
Hoje a tarde vou investigar este lugar... Não consegui convencer meus pais a partirem imediatamente, algo parece prendê-los aqui. Preciso entender tudo melhor”
...
“Décimo dia,
Desde que cheguei aqui não consigo dormir direito. Meus estudos estão sendo prejudicados. Acredito que forças malignas habitem este vilarejo. Tenho me concentrado em magias de proteção contra o mal e rezado aos deuses por ajuda... não sei o que me aguarda...”
...
“Décimo primeiro dia,
Agora entendo porque todas as manhãs os homens saem com tanta disposição para trabalhar. As lavoras ficam distante do centro, lá há vida e ar puro. Eles conseguem renovar suas forças e é mais fácil conversar com eles.
Mas as lavouras só estão longe porque as terras antes do rio são insalubres... não sei o motivo disso, mas agora percebo que não existe vida vegetal na vila, a não ser por algumas ervas daninhas que são raras quanto mais perto do centro. Também são poucos os animais que se aventuram por aqui... apenas humanos.”
...
“Décimo quarto dia,
O centro da vila é um cemitério. Fica atrás de uma capela. Existem uma ou duas casas maiores, todas antigas de pedra, creio que a maior e mais perto da capela seja a casa do senhor, mas ainda não o conheci. As demais casas são de madeira, espalhadas pela vila. Não há comércio, existe uma barraca onde as pessoas levam seus produtos para compartilharem com os demais moradores. A vida é muito simples. Mas ao mesmo tempo, assustadora. Poucos são os que entram na casa do senhor, menos ainda os que vão a capela. Não há um clérigo em serviço. Nunca vi os donos da vila, apenas os servos. Alguns que moram aqui há mais tempo parecem comandar os serviços, mas suas atitudes são tão estranhas, como se não tivessem mente própria...
...
“Décimo sétimo dia,
Não havia reparado antes, isso é estranho. Não existe vida a noite. Ninguém ousa sair de casa a noite. Demorei em notar isso porque eu mesmo não tinha vontade de sair a noite, todos dormem cedo. Mas quando comentei com meus pais sobre barulhos na rua, eles desconversaram. Passei uma noite observando, questionei as pessoas, ninguém gostou do assunto. Estou certo de que algo lá fora caminha pela noite e ninguém tem coragem de abrir sua porta depois que o sol se põe. Preciso descobrir o que é, talvez assim consiga convencer meus pais a partirem. Minha irmã está piorando, não entendo porque ela está assim..."

As passagens começam a ficar dispersas. Parece que Petrik não tem mais força ou vontade de descrever tudo o que vê. São poucas as folhas restantes no diário, ele explica porque parou de escrever. Talvez precise buscar lembranças que o caçador conta daqueles dias sombrios em outros textos a fim de esclarecer qual foi o horror que ele precisou enfrentar e jurou continuar enfrentando...