15.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 4/5)

Nesse ponto Petrik evita descrições profundas. Apenas podemos imaginar o horror que sentiu o jovem ao encontrar os corpos sem vida de seus pais largados no chão da casa. Apenas um gemido no andar de cima fez o torpor passar. Ele explica que pegou a primeira coisa parecida com uma arma e correu para o quarto de sua irmã, ele imaginava o que acontecia, mas não sabia pelo que esperar.
“Subi as escadas o mais rápido que pude. Quando cheguei notei aquele tom verde sobre minha irmã, uma espécie de boca encostava-se a seus lábios, enquanto ela permanecia deitada, inerte. Instintivamente joguei aquilo que tinha em minhas mãos, como uma lança, em direção ao ser que havia matado meus pais. A velha vassoura atravessou a fumaça e se partiu na parede. Foi o bastante para chamar a atenção do fantasma e desconcertá-lo... a única coisa que veio a minha mente foi um encantamento de luz, isso o fez fugir, mas não o destruiu...”
Aparentemente a irmã não morreu nessa hora, mas também não voltou a acordar enquanto eles estavam na vila. O caçador fez o que pode para dar paz às almas de seus pais e preparou-se para partir. Mas ele sabia que algo estava diferente em sua irmã e que não haveria esperanças para ela se não se livrasse do espírito maligno que a tocou. Assim, ele se preparou para a vingança.
Buscou em seus livros uma explicação para o que seria aquilo. Um espírito amaldiçoado que não aceita morrer, alimenta seu corpo putrefato sugando a vida dos seres a sua volta, desenvolvendo uma ligação com os mesmos, destruindo suas mentes e auto-determinação. Não havia explicações de como destruir tais seres, mas sua esperança repousava na idéia de que seu corpo decaído era seu local de descanso, sem ele não teria para onde retornar todas as manhãs.
Quando o sol nasceu, ele sabia o que fazer. Tudo indicava que o algoz da cidade encontrava-se no cemitério. Para lá ele seguiu, munido de seu livro de magia e de uma pá. A população olhava aterrorizada para o pobre infeliz, mas não tinha coragem de impedi-lo ou ajudá-lo. Ao passar pelos portões da capela que levavam ao cemitério, Petrik sentiu como se o ar fosse um muro de tão asqueroso e pesado. Segurando o fôlego ele avançou. Ele ainda não conhecia o cemitério por dentro, mas viu que todos os túmulos estavam profanados, ninguém tinha coragem de deixar seus mortos lá.
Apenas um mausoléu negro mantinha-se imponente e intacto. Agora seria Petrik quem eliminaria a maior profanação. Arrombando as portas do mausoléu, com muita dificuldade. Antes de adentrar, invocou uma magia de proteção. O túmulo estava lá. Com a mesma pá ele quebrou a laje. Não sabia dizer de onde vinham suas forças, mas não desanimou ao encontrar terra para ser cavada.
“Quem se daria o trabalho de enterrar de maneira tão sacra tal monstro?” era o que sua mente pensava naqueles momentos terríveis. Quando chegou ao fundo, restos mortais amaldiçoados exalavam seu cheiro de morte. Ele não agüentava olhar aquele monstro. Saiu do túmulo e fez o que pretendia fazer. Esconjurou com fogo místico os restos mortais daquele ser, garantindo que nunca mais ele tiraria a vida de outra pessoa.