9.11.04

Prólogo (Parte 2)

Cores

A primeira impressão é marcante, como uma obra de arte. As cores fortes e bem definidas podem chocar, mas também nos encher de paixão e alegria. Tudo é muito claro e certo. Isso facilita nossa compreensão e adaptação.
Mas como toda grande obra de arte, a cada novo olhar, novas nuances se manifestam. A mudança é constante. Assim que é. Não devemos nos prender ao primeiro exame, pois as cores fortes podem nos enganar. Existe algo mais, por baixo das pinceladas superiores.
Talvez em alguns momentos da vida seja tudo em preto e branco, mas as variações de cinza fazem a diferença. Assim é esse mundo. Tudo está em seu devido lugar, mas em movimento. Não perca tempo tentando classificar, deixe que tudo aconteça como deve acontecer.
Essa talvez seja a resposta. Por maior que seja a sombra que se levanta, ela também pode mudar. Sim, existe mudança, mesmo nos corações sombrios. Mas talvez você precise de certezas. Pois então saiba que são as transformações que sustentam a esperança, nossa força, a garantia de que haverão dias melhores.

3.11.04

Prólogo (Parte 1)

Inglaterra, alguns anos após aquela guerra que veio para acabar com todas as outras. Começava minha tese de doutorado em Cambridge pela Faculdade de História. Minha área de pesquisa era estudar o desenvolvimento do cotidiano das pessoas comuns. Mas alguns dados despertaram meu interesse, pois trouxeram memórias de meu passado e de minha família. Então, comecei a estudar casos de desaparecimento de pessoas, o que os causava, fatores que os tornavam mais ou menos freqüentes ao longo dos anos. Segundo as metodologias científicas tradicionais.
Não descobri nenhum grande segredo de Estado, apenas encontrei estranhos casos de desaparecimento, quando permitiu surgir às primeiras idéias para uma tese, qualquer que ela fosse. Quanto mais pesquisa sobre esses acontecimentos bizarros, maior era minha certeza de aquelas pessoas simplesmente haviam deixado de existir. Percebi que havia um padrão nesses casos diferentes de todos os outros, mas ao mesmo tempo notei que eles estavam diminuindo, o que tornava tudo mais difícil de se compreender.
Era tudo ridículo, eu também era incrédulo. Relato de exércitos sumindo sem deixar vestígios em plena campanha era algo impossível de se acreditar. Apenas quando encontrei provas de uma pessoa que foi para lugar algum e voltou do nada, que mudei minha visão. Ele retornou depois de anos sem qualquer mudança aparente, mas também sem entender o que havia acontecido. Não, não falei com ele. Ele morreu alguns minutos depois de seu retorno, quando apareceu no meio de uma rua e foi atropelado por um automóvel, algo que não existia quando ele sumiu.
Poderia listar vários outros casos de que tomei conhecimento, além de situações muito estranhas relacionadas. Tudo indicava existirem forças maiores movendo o universo, que nenhuma lei da física explicava, muito menos as leis da história. O que não me ajudava, já que ninguém acreditava nesses relatos. Fui ironizado até por meu orientador, que recomendou que eu fosse trabalhar com o departamento de parapsicologia. Ele não queria enxergar os fatos, dizia que minha percepção científica estava prejudicada. Eu mesmo desconfiei de que meu ceticismo neutro havia perecido, mas mesmo o olhar mais minucioso não desmentia os fatos.
Enquanto ainda ponderava que destino deveria dar aos meus estudos, continuar ou abandonar, as mudanças ocorreram. Em mais uma daquelas noites frias da Inglaterra, ao retornar da Biblioteca, minha passagem teve início. De maneira dolorosa eu vim a entender o que acontecia aos meus objetos de pesquisa. Mas eu seria o único, pois com ninguém poderia compartilhar. Pelo menos foi o que eu pensei no início...