7.10.04

Lendas...

O que você faria se derrepente acordasse em um mundo totalmente diferente? Digamos assim, você vai dormir se sentindo estranho, deita na sua cama quente, no seu quarto reconfortante e acorda no centro de uma vila com casas de madeira e palha, quase nenhuma casa de alvenaria, deitado na relva perto de uma fonte, cercado por pessoas que você nunca viu em sua vida, usando roupas estranhas de tecidos rudes. No mínimo você pensaria estar sonhando. Infelizmente comigo, não foi assim o sonho. Quando tudo aconteceu, eu sequer estava dormindo. Não pude desejar boa noite para ninguém de quem eu gostava, nem me despedir do meu quarto. O mundo começou a rodar e eu senti uma dor insuportável. Desmaiei. Quando acordei estava nesse mundo estranho, nas terras do norte de Teilzu, em uma situação parecida com a que descrevi logo acima. O céu da noite estava escuro, as tochas acesas tornavam a situação ainda mais assustadora. Mas não era só eu quem estava com medo, meus observadores também estavam assustados. Ficavam repetindo uma palavra que eu não entendia no início. Eles não falavam minha língua, ninguém fala. Quando comecei a entender as palavras, de forma natural, mas inexplicável, entendi o que queriam dizer... Eles falavam sobre os eclipses no céu e sobre alguma lenda do fim do mundo, ou recomeço do mesmo.
Não falta muito para essa lenda se tornar real e aparentemente eu sou uma peça nela. Aquele que encontrará o salvador. Em breve ele ou ela chegará, um dos últimos a realizar a passagem. Mas esse em breve me tomou um longo tempo. Quase enlouqueci e definitivamente perdi as esperanças. Toda a fé de uma nação repousa nessa lenda, mas e se ela se concretizar da maneira errada. Eu vi o mal que se aproxima, apenas uma pessoa não poderá salvar o mundo. Algo mais é necessário. Acho que meu papel não é apenas encontrar o visitante, mas preparar a todos para o desafio. Devo continuar contando minhas histórias na esperança de que alguém resolva se levantar e viver sua própria aventura e assim tornar a realidade em lenda.

4.10.04

O Ciclo e seu Percurso

Nem todos os terrores são monstros. Talvez não sobre a perspectiva moderna que alguns de nós temos. Mas a maior parte é sempre interpretado como horrores além da imaginação. Horrores que destróiem nossos corpos e se alimentam de nossas almas, apenas a fé pode nos salver.
Certo, essas são as palavras dos mais velhos, daqueles que não entendem direito os mecanismos da vida e da morte. Atualmente as pessoas compreendem melhor o que se passa com os corpos dos seres vivos, magos e estudiosos pesquisaram o bastante para entender alguns dos mecanismos da vida. Apesar dos grandes acontecimentos que costumam ocorrer aqui, a vida também possui sua rotina, ela mantém seu fluxo normal na maioria das vezes.
As pessoas nascem, crescem, envelhecem e morrem. Talvez um pouco mais rápido do que isso, para os que tem sorte pode ser que demore, depende sempre do ponto de vista. Mas esse é o ciclo normal da vida. E cada vida em particular é o palco de grandes acontecimentos, se formos pensar bem. Muitas coisas podem acontecer.
Pessoas desenvolvem sentimentos, têm idéias, adoecem, promovem curas, geram a vida, movimentam-se. A explicação mais plausível para tudo isso ao mesmo tempo, segundo a maioria da população, são as forças divinas quando se trata de coisas boas e demônios para tudo que é ruim. E também no dia-a-dia das pessoas vemos o eterno duelo entre bem e mal.
Mas talvez esse não seja o maior desafio. Esclarecer que doenças não são necessariamente demoníacas é cada vez mais importante, porque nos dias paranóicos em que vivemos, qualquer desiquilíbrio social é fatal, mais do que a própria doença que o causou. Expurgar doentes tem sido o principal "método de cura", pois já são poucos os clérigos com verdadeiros poderes e as pessoas começaram a perder a esperança.
Antigamente, a morte não era tão temida, ela era esperada como um novo passo na jornada. Os clérigos eram guias, eles facilitavam tanto a estadia nesse mundo quanto a passagem para o próximo. Hoje cada um está mais preocupado com sua própria vida, ignorando a do próximo. Clérigos passaram a ser considerados posses, são dominados pelas comunidades e o verdadeiro poder não é mais demonstrado, o poder de cura espiritual.
Isso permitiu, pelo menos, desenvolvimento de técnicas que não se utilizam de forças divinas. A medicina começa a surgir, mas ela é mal vista pela maioria, forças demoníacas estariam por trás dela. O ciclo da vida continua, mas ele vêm sendo transformado, encurtado talvez, por uma nova doença, uma doença para o qual todos estão cegos. Ela surge do medo e da confusão, ela impede não apenas a cura dos indivíduos, mas a sobrevivência da sociedade. É a loucura das massas um sinal para a ruína que se aproxima.